AEJMS - Agrupamento de Escolas José Maria dos Santos

Quinta-feira, 07 de Abril de 2022

“A Pele é um incêndio”, de Maria Teresa Meireles, foi a obra vencedora, no género literário Conto, da edição de 2021 do Prémio Literário Alves Redol.

Instituído pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, o Prémio Literário Alves Redol tem como objetivo promover e incentivar a criação literária, prestando também homenagem ao grande romancista Alves Redol, natural do Concelho de Vila Franca de Xira.

Com um número-recorde de obras concorrentes (357), o trabalho de Teresa Meireles foi reconhecido por unanimidade do júri, que salientou que a “autora revela nos seus contos um bom domínio da linguagem literária, com a curiosidade de cada um desses contos ser dedicado a um escritor. Cada autor objeto da dedicatória enquadra-se, de algum modo, no conto da própria autora seja pelo tema ou por aspetos mais formais da narrativa. Com mestria narrativa, e por vezes alguma inovação formal, alguns dos contos abordam temáticas fundamentais à existência humana como a morte, os filhos ou o amor enquanto outros elaboram com particular finura literária sobre dimensões do quotidiano”.

A Professora do Agrupamento de Escolas José Maria dos Santos, em Pinhal- Novo, contou-nos um pouco da história deste prémio, do seu percurso profissional e literário e de como encara a sua missão junto dos seus alunos.

Numa conversa intimista, a docente revelou que se “sente escritora, acima de tudo” e que um conto “é um universo concentrado”, sendo que, nesta obra em concreto, lhe fez todo o sentido homenagear “cada um dos autores que, de alguma forma, me influenciaram mais, às vezes pelo ambiente, outras vezes por obsessões, ou simplesmente com aqueles com que me identifico mais”.

O sentimento que nos descreve perante este prémio é “grande satisfação, sobretudo por ter ganho com um conto, que muitas vezes é um género literário injustamente considerado, e por ter sido uma mulher a ganhar”, quando na maioria das vezes este tipo de concursos “são ganhos por homens”. “É um incentivo extraordinariamente importante, também para criar novos leitores, e até, eventualmente, escritores”, pelo que tenta que os seus alunos gostem da língua portuguesa, que aprendam e que se habituem a fazer jogos de linguagem. “Que se apercebam do poder da palavra, evitando os estrangeirismos”.

Diz-nos Teresa Meireles que “quando os alunos começam a perceber o grande jogo que a língua pode ser, quando compreendem que falarem bem, escreverem bem e entenderem bem, lhes pode dar um enorme poder em toda a sua vida, os alunos começam a colaborar, a participar e a gostar da leitura e da língua portuguesa”.

Saber interpretar é apontado pela investigadora, como uma enorme vantagem para os alunos.

“Uma deficiência verbal pode ser confundida com uma deficiência mental”, refere, considerando que, se os alunos não se conseguem expressar, mesmo que pensem bem, vão sempre sentir-se com dificuldades em toda a sua vida. “Estão sempre a baixo daquilo que poderiam ser” e o não saber explicar o que se sente é uma grande limitação. É por isso mesmo, que a autora defende que a missão principal dos professores é “sermos capazes de mostrar o diferente”, encorajando e incentivando ao progresso do aluno.

Depois de já ter publicado várias obras, Maria Teresa Meireles diz acreditar que os alunos se interessam cada vez mais pela leitura, pese embora, muitas vezes, ao início não gostem.

Mas é, em seu entender, esse o principal segredo para ser um bom escritor
“Não há um grande escritor que não tenha sido um grande leitor”.

Devoradora voraz de “uma série de coisas diferentes”, como a própria admite, este é o conselho que deixa sempre aos muitos alunos com quem já trabalhou, e que, por vezes, leva a miniconcursos literários. “Ler muita coisa diferente é essencial. Nada nasce do nada. É preciso muita leitura. Não se fiquem por um estilo, não se fiquem pelos clássicos. A literatura latino-americana, por exemplo, é extraordinária. Leiam ensaios. Releiam o que escrevem com distanciamento. A leitura não tem um tempo rápido. Pressupõe pensar sobre as coisas, e isso é extremamente relevante para os alunos melhorarem e progredirem na sua aprendizagem”.

Para além da atividade de docente, Maria Teresa Meireles é Investigadora na área da Literatura Oral e Tradicional. Tem Mestrado em Literatura Medieval e Doutoramento em Literatura Oral e Tradicional (qualquer uma das teses publicada).

Já foi Consultora para as «Palavras Andarilhas», de Beja; Diretora da coleção «Redes e Enredos»; Membro do IELT (Instituto de Estudos de Literatura Tradicional), da UNL (Universidade Nova de Lisboa); Membro do IBBY (International Board on Books for Young People).

É ainda autora de várias obras, entre elas:

  • «Elementos e Entes Sobrenaturais nos Contos e Lendas» (tese de Mestrado);

  • «A Partilha da Palavra nos Contos Tradicionais» (tese de Doutoramento);

  • «B.I. da Serpente»; «B.I. dos Sapos e Rãs»; «B.I. de Ratos, Ratinhos, Ratões e Ratazanas»;

  • «A Arca dos Contos» (cartas para estimular a criatividade) ;

  • «Quem isto ouvir e contar em pedra se há-de tornar»;

  • «A Troca: Perdas e Permutas nos Contos Tradicionais»;

  • «Mirabilia»



Manteve, durante um ano, uma crónica semanal - «Dicionário Íntimo» - no jornal «Semmais»/Setúbal.

Recebeu, Menção Honrosa no Prémio Nacional de Conto Manuel da Fonseca, 2020.





AEJMS - Agrupamento de Escolas José Maria dos Santos

 

Top